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07/06/2018 - Mercado de créditos de carbono sinaliza retomada
Mecanismo compensa aumento de emissões de CO2 na atmosfera, apontadas como responsáveis pelo aquecimento global
Celebrados no início deste século como forma importante de combater o aquecimento global, os créditos de carbono perderam relevância por falta de mercado internacional, mas resistiram e parece que, agora, ganham um novo fôlego, apesar do futuro ainda incerto.
Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2), gás apontado como o principal causador do aquecimento global, cuja emissão foi evitada ou retirada da atmosfera. Quem dá credibilidade a ele é a Organização das Nações Unidas (ONU), que exige uma série de procedimentos para que o certificado seja emitido.
Baseada no Protocolo de Kyoto, de 1997, a ideia inicial era que um grande mercado global surgisse para negociar os créditos, alocando-os nos países que estavam obrigados, pelo acordo – que só começou a vigorar em 2004 –, a reduzir suas emissões de gases que provocam o aquecimento global. A previsão era que nações emergentes, como Brasil, China e Índia, fornecessem grande parte dos créditos a países desenvolvidos, como os Estados Unidos e membros da União Europeia.
"Não foi o que aconteceu, esse mercado não funcionou como deveria", explica o diretor da Organização Contábil Prado, Marcílio Prado (GBrasil | Rio Branco – AC), que já empreendeu com créditos de carbono. "Atualmente, o que vemos muito mais são empresas pagando a manutenção de áreas de plantio ou conservação de florestas, que sequestram carbono da atmosfera, mas não um mercado internacional nos moldes imaginados."
Consultor técnico do Instituto Ecológica, ONG atendida pela Opção Contadores Associados (GBrasil | Palmas – TO), o engenheiro ambiental Marcelo Haddad diz que após 2012 a compra de créditos de carbono diminuiu bastante, por falta de esforço da comunidade internacional. "Apesar disso, o mercado global de carbono está se recuperando. No Brasil, ainda deve demorar um pouco mais, por causa da crise", diz.
"Para efeito regulatório, ainda é um mercado altamente incipiente no Brasil", complementa o sócio-fundador da Neutralize Carbono, Felipe Bottini. "Agora, do ponto de vista de compensação voluntária, a demanda cresceu muito. Vemos isso muito forte na parte de eventos – não existe um grande que não considere isso. Fazemos a compensação para Lollapalooza, Rock in Rio e uma série de outros", diz.
Custo dos créditos
Bottini explica que a análise de quanto dióxido de carbono uma empresa ou evento precisa é chamada de "inventário". É com base nesse levantamento que se calcula quantos créditos serão necessários para neutralizar as emissões.
Ele estima que um escritório de dez pessoas, com uma tomada, um ponto de iluminação e um computador para cada uma delas, produz cerca de dez toneladas de dióxido de carbono por ano. A quantidade salta para 50 toneladas de CO2 em uma empresa prestadora de serviços com 200 funcionários e mesmo perfil de consumo de energia. Já uma indústria do ramo siderúrgico, por exemplo, pode lançar milhões de toneladas do gás na atmosfera anualmente.
"Para poucas toneladas, você vai pagar de R$ 80 a R$ 100 por crédito, e em grandes quantidades, algo próximo a R$ 12. A diferença de preço é fruto da certificação necessária, cujo preço se dilui em poucos centavos por certificado quando falamos de milhares de toneladas", afirma o sócio-fundador da Neutralize sobre a compra dos créditos certificados internacionalmente.
Para quem produz poucas toneladas, uma opção é usar a plataforma Web CO2, desenvolvida pela Sustainable Carbon com a metodologia do Instituto Ecológica. Por meio da página, é possível calcular quantas emissões uma empresa produz e comprar os créditos, que custam R$ 15,50 cada.
"Na plataforma, também é possível escolher qual projeto a compra vai ajudar, e o certificado já sai na hora", explica Marcelo Haddad.
União Europeia aponta futuro promissor
O futuro global dos créditos de carbono dependerá do Acordo de Paris, assinado em 2015, que alterou alguns pontos do Protocolo de Kyoto. "O mercado regulado de carbono está muito minguado e sua recuperação vai depender das regras de Paris sobre o tema, que ainda não estão definidas", diz o sócio-fundador da Neutralize, Felipe Bottini.
Apesar das incertezas, a retomada dos créditos de carbono parece que já está acontecendo, como ressalta a agência Bloomberg. O novo fôlego vem do mercado de carbono da União Europeia, o maior dos 45 existentes no mundo, que anualmente movimenta cerca de US$ 38 bilhões (aproximadamente R$ 141 bilhões). Por causa de medidas mais duras das autoridades do bloco, grandes poluidoras do continente têm comprado mais certificados em 2018, aumentando o valor dos papéis.